Tanto as palavras que proferimos como as
que pensamos ficam gravadas num mundo sutil, e têm o poder de influenciar
profundamente a nossa vida presente e futura.
O
uso da palavra define o ser humano. Raramente, num instante de meditação,
ficamos livres do pensamento. Uma das nossas características centrais é que
falamos quase o tempo todo, não apenas com palavras físicas, mas também
mentalmente. Quando não dizemos nada para os outros, estamos dizendo coisas
para nós próprios. Quando não escutamos alguém, ouvimos dentro de nós a voz
interior das esperanças e anseios que habitam nosso universo pessoal.
A
fala, é muito mais do que um mero som ou uma seqüência lógica de pensamentos. É
uma corrente magnética cheia de vida. Para o cachorro, a voz do dono desperta
devoção e um sentido natural de obediência. Para a criança pequena, a voz da
mãe dá tranqüilidade e a faz dormir. Para aquele que busca compreender a si
mesmo, a voz da consciência é seu grande mestre.
A filosofia esotérica ensina que o mundo
físico, com suas três dimensões, é rodeado por um universo invisível,
eletromagnético e transcendente. Nessa quarta dimensão, as distâncias físicas
não têm importância. Esse mundo sutil é conhecido como luz astral. Nele estão
registradas as imagens de todas as coisas que passaram e as sementes das coisas
que virão. É um espaço-tempo diferente, que rodeia e também interpenetra o
nosso pobre mundo tridimensional. Ali as coisas podem deslocar-se na velocidade
do pensamento.
Esse
mundo oculto é influenciado decisivamente pela palavra. “No início era o verbo”, diz a Bíblia (João,1:1). E o verbo ainda hoje cria o universo humano. Todos os
dias, pela manhã, reinventamos a vida. É sempre aqui e agora que criamos o
nosso destino futuro, através das palavras que dizemos para nós próprios e para
os outros. Cada pensamento e cada som é um mantra, porque detém um poder mágico
de influenciar a vida de modo profundo. Eliphas
Levi escreveu: “As vibrações da voz
modificam o movimento da luz astral e são veículos poderosos do magnetismo”.
(1) As vibrações do pensamento que
não é falado têm o mesmo efeito.
O
poder da palavra é enorme, portanto. Ela salva e condena, ilumina e causa
escuridão, faz adoecer, cura e dá esperança. O pensamento correto leva à
palavra e à ação correta, e disso surge a felicidade. Está escrito em “Provérbios”, um texto bíblico que
transmite grande sabedoria:
“Uma resposta branda aplaca a raiva, uma
palavra agressiva atiça a cólera. A língua dos sábios torna o conhecimento
agradável, a boca dos insensatos destila ignorância. Em todo lugar os olhos de
Deus estão vigiando os maus e os bons. A língua suave é árvore da vida, mas a
língua perversa quebra o coração. (...) Os lábios dos sábios espalham
conhecimento, mas o coração dos insensatos não é assim.” E poucas linhas mais adiante: “Abominação para Deus são os pensamentos maus, mas as palavras
benevolentes são puras.” (2)
A
palavra é a unidade básica do pensamento e da fala, e sempre chega ao seu
destino. Ela produz um efeito eletromagnético, independentemente de nós sabermos
ou desejarmos isso. Mas a parte principal do seu efeito se volta para nós
próprios. As palavras que dizemos ficam gravadas em nosso inconsciente e se
misturam ao nosso destino. Esta é uma
lei inevitável, e por isso nossa vida é, de fato, resultado do nosso
pensamento.
Uma
das escrituras do budismo, ensina:
“Tudo o que somos hoje é resultado do que
temos pensado. O que pensamos hoje é o que seremos amanhã: nossa vida é uma
criação da nossa mente. Se um homem fala ou age com uma mente impura, o sofrimento
o acompanha como a roda segue a pata do boi que puxa a carreta. (...) Se um
homem fala ou age com a mente pura, a felicidade o acompanha como sua sombra
inseparável.” (3)
O
Novo Testamento (Tiago, 3:2-3)
afirma: “Aquele que não tropeça ao falar
é realmente um homem perfeito, capaz de refrear todo seu corpo. Quando
colocamos um freio na boca dos cavalos, a fim de que nos obedeçam, conseguimos
dirigir todo seu corpo.”
Assim como a cabeça do cavalo, a palavra
vai na frente, abre caminho e define as linhas pelas quais o futuro será
construído.
Bibliografia
(1)
A Chave dos Grandes Mistérios, de Eliphas Levi, Ed. Pensamento, SP, p. 111.
(2)
Provérbios, 15, 1-7, e também 15:26 no Antigo Testamento.
(3)
Dhammapada, Caminho da Lei, tradução e adaptação de Georges da Silva, Ed.
Pensamento, SP, p. 19.
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