O fascínio pelos oráculos é fruto da consciência do homem de que terá
um futuro – o que pode ser uma dádiva ou um castigo a depender do
momento e de quem observa. A prática oracular é ancestral e tem origem
incerta. Acredita-se que surgiu a partir da observação de fenômenos
naturais e da correlação destes mesmos acontecimentos com fatos da vida
cotidiana. Com o tempo, passou a ser interpretada como tentativa de
preleção do futuro e, posteriormente, como instrumento de orientação
para decisões.
Dessa forma, é seguro dizer que esses sortilégios tiveram uma
participação ativa no papel de formação das civilizações e que estão
presentes em todas as culturas. Junto com elas, os sistemas oraculares
sofrem adaptações e atualizações – basta observar os inúmeros oráculos
eletrônicos que temos na atualidade, e a eficácia atestada por
indivíduos que a eles recorrem.
O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, criador da Psicologia Analítica,
estudou atentamente a participação da crença mística no funcionamento
da psique. Naturalmente, encontrou nos oráculos um campo fértil de
pesquisa, dedicando-se principalmente à astrologia e ao I Ching. Jung
concordava que os instrumentos promoviam um diálogo franco com forças
invisíveis. Mas, em vez de espíritos e gênios, ouvia nos oráculos a voz
do inconsciente. Ao receber essa interpretação, os sortilégios ganham
outra roupagem: se transformam em veículos interessantes ao processo de
autoconhecimento.
O Tarot é certamente um dos oráculos mais populares do mundo
ocidental contemporâneo. Composto por 78 cartas, constitui um forte
conjunto de símbolos, que vêm sendo usados por anos a fio como
instrumento de preleção do futuro e autoconhecimento. A incerteza da
origem das imagens reforça o quê mágico e ainda provoca uma série de
especulações. Uns associam o baralho ao conhecimento hermético advindo
do antigo Egito, enquanto outros dão aos indianos o crédito de
elaboração do sistema. Há ainda aqueles que garantem a origem cigana nos
tarôs – embarcados na aura de mistério e misticismo que acompanha este
povo. No entanto, pesquisas apontam para sua criação em meados da
Renascença – bem depois do que acredita a maioria – com uma função
recreativa, simplesmente.
No entanto, os personagens, virtudes e situações descritas nas cartas
sinalizam pontos importantes da trajetória humana. Jung enxergou no
Tarot uma rica expressão do inconsciente coletivo – conceito que criou
para designar uma espécie de conteúdo residual de todas as experiências
da humanidade, atualizada por repetição com o passar dos anos. Lá estão
representados, por exemplo, o amor materno, o impulso para a guerra e o
fascínio pelo divino. Assim como os demais oráculos, o Tarot seria um
sistema de representação dessas e muitas outras potencialidades humanas,
chamadas arquétipos. A partir das figuras estampadas nas cartas, o
indivíduo seria chamado a refletir sobre as virtudes e dissabores da
própria existência. E, a partir dessa reflexão, levar a decisões mais
favoráveis ao próprio desenvolvimento.
Mas qual seria a mágica que levaria a escolha da carta certa para
ilustrar o momento em que estamos vivendo? Para Jung, tudo se processa
como resultado do movimento psíquico, uma forma peculiar de diálogo.
Para entendê-la, é preciso saber que a expressão do inconsciente se dá a
partir de símbolos. E esta também é a linguagem que compõe cada lâmina
do Tarot. Quando escolhe, ao acaso, um certo número de cartas de um
monte, o consulente concede ao inconsciente um veículo para que se
expresse. Este usará, a partir da simbologia das cartas, um canal de
comunicação com a consciência.
Ao tarólogo cabe o papel de decodificação e organização das
informações, a partir dos símbolos que surgem, de forma acessível à
compreensão do consulente. Obviamente, essa atividade exige atenção para
que as informações sejam transmitidas com o menor grau de
interferência, de preconceitos e de opiniões próprias.
Sincronicidade
A “mágica” das coincidências significativas, que se manifesta nos
oráculos, foi conceituada por Jung como sincronicidade. Ela é uma dos
métodos usados pelo inconsciente para trazer à tona uma percepção – não
só a partir das artes adivinhatórias, mas também daquelas outras
“coincidências” que nos tocam de forma tão profunda, a ponto de
despertar a uma nova observação do momento já conhecido. Essa foi uma
das mais controversas teorias junguianas, pois era considerada mística
demais para ser considerada ciência. No entanto, desde Einstein, a
Física Quântica aponta para a comprovação das hipóteses a partir do
estudo da energia como condutora de informação.
Muitas vezes, os eventos sincronísticos nos conduzem aos insights que
tanto esperamos: é como se, em um breve momento, a ignorância se
descortinasse e pudéssemos vislumbrar a realidade. E, assim, nos
sentíssemos seguros para superar as dificuldades impostas pelo momento.
A percepção do espaço e do tempo são atributos da consciência. Ou
seja, no inconsciente eles se perdem, não têm a mesma importância que
damos na vida lúcida. Como manifestação do inconsciente, a
sincronicidade é capaz de ensinar sobre a sensação de relatividade do
tempo, inclusive durante uma consulta oracular. Assim surgem, com a
mesma facilidade, evocações do passado e lampejos de futuro. Da mesma
forma, distâncias físico-espaciais se encurtam.
O que ordena a prioridade do que é apresentado durante um jogo é a
carga afetiva dos acontecimentos, e não os fatos em si. Por esse motivo,
muitas vezes o consulente chega com questionamentos pré-formulados e,
ao iniciar a consulta, uma nova problemática se apresenta e domina o
assunto. Antes de debruçar sobre o que quer saber, ele deve se debruçar
sobre o que precisa saber.
Tarot Analítico
Já praticava o tarot quando tive os primeiros contatos com as teorias junguianas. A partir delas, percebi que os símbolos presentes em cada carta eram ricos demais para serem reduzidos a um quê adivinhatório das consultas. Isso muitas vezes levava o consulente a mais expectativas que certezas – e a experiência me fez entender o risco que isso envolvia. Ao buscar um aprofundamento na Psicologia Analítica, percebi que o oráculo poderia funcionar, na verdade, como uma eficaz ferramenta de acesso ao inconsciente. E que, em vez de previsões, o foco deveria estar nos esclarecimentos – algo mais pertinente ao desenvolvimento pessoal, ao autoconhecimento.
Assim, busquei desenvolver uma metodologia que proporcionasse uma
chance maior e mais segura para esse mergulho. Em referência às teorias
junguianas, resolvi denominá-la por Tarot Analítico. Nesse enfoque, a
consulta se transforma em um exercício de ampliação da consciência, com
base em símbolos, mitos e dinâmicas psíquicas revelados a partir das
cartas. A consulta se divide em duas fases: uma explanação geral sobre
as dificuldades enfrentadas no presente momento e, em seguida, um espaço
destinado a explorar temáticas não apresentadas na primeira fase.
A partir dos símbolos e mitos presentes em cada arcano, o consulente é
chamado a refletir sobre os padrões emocionais, expectativas e
negligências vividas no momento – e também sobre a participação de cada
um desses aspectos na manutenção do problema, em vez da solução do
mesmo. Ou seja, o tarot convida à autoanálise e, consequentemente, à
revisão de valores e de posturas adotadas.
Enxergar o oráculo como uma chave para o desenvolvimento pessoal é, antes de tudo, confiar que podemos ser guiados com sabedoria por esse invisível – sendo ele chamado de Deus, de Self etc.
O oráculo desmascara a nossa tentativa de controle exaustivo, mas
também nos desperta a agir. Dá a clareza necessária para o entendimento
da postura adotada diante dos nossos objetivos, e do que precisa ser
feito para que possamos alcançá-los. Aprendemos a medir nossos medos e
ansiedades. Entendemos sobre a verdadeira função dos outros em nossa
vida, e vice-versa. Tornamo-nos mais responsáveis pelo futuro que tanto
desejamos.
Gratidão.
Paz e Luz!
Referência: Self Integração do Ser
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