Na abordagem junguiana, as cartas podem ser usadas com um acesso para o inconsciente.
Pense em uma cigana com adornos brilhantes e coloridos com cartas nas
mãos para adivinhar o futuro. Mas pense também em uma economista formada
pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), consultora de
empresas de tecnologia, buscando compreender, a partir das cartas, o que
a faz reproduzir um padrão de comportamento. Ou em um professor de
literatura de um colégio renomado, homem intelectualizado, cujo
terapeuta propõe a utilização das cartas em algumas sessões. A resposta
para a pergunta do título já está dada, no primeiro parágrafo do texto
mesmo: o tarô é recurso tanto para o esoterismo e o divinatório quanto
para a expansão da consciência, seja individualmente ou em processos
terapêuticos conduzidos por profissionais.
Alegoria pagã
Um conjunto de 78 cartas divididas entre 22 arcanos maiores e 56 arcanos
menores. Há incontáveis versões gráficas das cartas, desde o
tradicional tarô de Marselha a um tarô surrealista ilustrado por
Salvador Dalí, passando por imagens étnicas de indígenas
norte-americanos e de orixás das religiões afro-brasileiras. Assim como
não se pode afirmar que há uma representação gráfica verdadeira das
cartas, não se pode reivindicar uma maneira correta de utilizá-lo ou
interpretá-lo. É possível encontrar diversas técnicas descritas em
manuais ou apreender ritos tradicionais de leitura transmitidos
oralmente. Sem nunca desconsiderar a liberdade de quem manipula as
cartas.
Apesar de muitos autores já terem pesquisado a origem histórica do tarô,
pouco se sabe sobre ela. Segundo Luis Pellegrini, no prefácio do livro Tarô de Marselha,
de Carlos Godo, a primeira prova concreta de sua existência é um
conjunto de cartas francesas do século 14. Sua origem é desconhecida -
há quem defenda que nasceu no Egito, China ou Índia e tenha sido levado à
Europa por ciganos. Pellegrini aposta na versão de que as cartas do
tarô tenham sido elaboradas por sábios que, prevendo o ciclo de
perseguições na Idade Média, criaram um sistema para preservar o
essencial de seu conhecimento. Nas palavras de Pellegrini, seu
raciocínio foi pragmático: “os homens entrariam numa fase de distração
das preocupações espirituais. Assim, a própria distração poderia ser o
meio mais adequado para preservar e transmitir o verdadeiro
conhecimento”.
Sallie Nicholls, autora do livro Jung e o tarô: uma jornada arquetípica,
também apresenta a hipótese de que o tarô tenha sido desenvolvido como
uma forma de contrabandear ideias da sabedoria ancestral que estavam em
desarmonia com as autoridades da Igreja Católica. E assim, foram
pintadas imagens alegóricas que condensariam em suas formas, figuras e
cores o que se sabia sobre a humanidade, o universo, deus. Conhecimento
considerado profundo travestido em cartas que pareciam superficiais.
Tarô e a psicologia analítica
Segundo Lans Van der Post, que escreveu a introdução ao livro Jung e o Tarô,
“quando um ser humano adquire determinado grau de autopercepção, é
capaz de fazer escolhas diferentes das da multidão e de expressar-se de
um jeito só seu. Tendo contato com o seu próprio e verdadeiro eu, já não
será presa da tagarelice de outros eus, interiores e exteriores”. Para
tanto, é necessário que estejam em equilíbrio o consciente e o
inconsciente. A individuação é um processo a desenvolver durante toda a
vida. Trata-se da integração de nossas partes: do consciente, aquilo que
sabemos sobre nós mesmos e o mundo, e o inconsciente.
Diferentemente de Freud, que definia o inconsciente como algo
individual, moldado por nossas experiências, Jung reconhece o
inconsciente individual, mas acrescenta a existência do inconsciente
coletivo: uma camada mais profunda do inconsciente. Algo como a mente
universal, “presente em toda parte e em todos os indivíduos”, nas
palavras do próprio Jung. Uma camada energética que extrapola cada um de
nós individualmente.
Segundo Ana Luiza Feres, psicoterapeuta junguiana, o inconsciente
coletivo é como uma biblioteca que reúne todo o conhecimento da
humanidade - experiências, sentimentos, ações de todas as pessoas. O
conteúdo desse inconsciente coletivo, cada um dos livros da biblioteca,
na metáfora de Feres, são os arquétipos. Imagens que se repetem
constantemente em diferentes lugares e diferentes gerações, padrões
universais, conteúdos do inconsciente coletivo.
Com alguns pacientes que se mostraram curiosos e atraídos pelas cartas,
Feres já utilizou o tarô em sessões de psicoterapia. Ela ressalta que
muitos terapeutas não se aprofundam no conhecimento a respeito do tarô
ou da astrologia, por exemplo, com receio de serem chamados de
charlatão. “Muitas pessoas foram queimadas na fogueira, na história da
humanidade, por esse conhecimento. O tarô ainda carrega essa pecha. É
necessário disseminar cada vez mais o conhecimento sobre o tarô e o
inconsciente coletivo. Deixar evidente que não se trata, de maneira
nenhuma ‘de trazer seu amor de volta em sete dias’, mas da busca de
insights por meio dos arquétipos”.
O processo terapêutico, para Jung, utilizaria técnicas verbais e
técnicas expressivas (não-verbais) para auxiliar no processo de
individuação. Para dissolver complexos, aquela sequência de experiências
afetivas que modulam o jeito de pensar e agir no mundo, para se
aproximar do eu mais verdadeiro, seria preciso conectar-se com o
inconsciente – pessoal e coletivo. E os arquétipos seriam, para Jung,
uma via poderosa de acesso ao inconsciente. Os contos mitológicos, os
contos de fadas, a astrologia e o tarô carregariam símbolos universais
que resgatam em cada indivíduo uma ligação psíquica com toda a
humanidade. Como se cada um de nós tivesse uma raiz conectada a um
terreno energético comum: o inconsciente coletivo.
Sincronicidade
Mas como uma carta ou uma sequência de cartas se conecta ao inconsciente
coletivo, ao consciente e ao inconsciente de quem a manipula?
Sincronicidade. Esse é o conceito junguiano para nomear dois ou mais
eventos que não têm relação de causa e efeito entre eles, mas que
estabelecem correlação. A consciência, focada na pergunta, afetaria
energeticamente o entorno.
Assim, a carta destacada aleatoriamente das demais ou a sequência em que
as cartas são colocadas permitiriam uma interpretação simbólica do
inconsciente que a consciência não alcançaria sem ter o tarô como ponte.
Seja para uma cigana prever o futuro ou para facilitar o processo de
individuação de um intelectual urbano, o tarô tem sido instrumento útil a
pessoas espalhadas por todo o planeta. Passou pela Idade Média, pelo
Renascimento e pela crença total na ciência moderna. Pode também ser
útil nos tempos de crise atuais como ponte de acesso ao saber ancestral
na compreensão de quem somos, do que sentimos e do que desejamos, seja
como indivíduos ou como multidão que ocupa, ou assiste quem ocupa, as
ruas.
🏵 núcleo SELF terapias.
55 (11) 95599-8873 - whats.: bit.ly/whatsSELF
Portfólio de terapias: 💛✨
Siga nas redes:
📩 ➡ Contato comercial: nucleoself.terapia@gmail.com
Gratidão.
Paz e Luz! 🙏✨
Imagens: The Jungian Tarot
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar esta postagem!
Ela será lida e publicada assim que possível.
Fraternalmente.