segunda-feira, 8 de julho de 2019

Tarô: oráculo ou recurso terapêutico?

Na abordagem junguiana, as cartas podem ser usadas com um acesso para o inconsciente.

Pense em uma cigana com adornos brilhantes e coloridos com cartas nas mãos para adivinhar o futuro. Mas pense também em uma economista formada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), consultora de empresas de tecnologia, buscando compreender, a partir das cartas, o que a faz reproduzir um padrão de comportamento. Ou em um professor de literatura de um colégio renomado, homem intelectualizado, cujo terapeuta propõe a utilização das cartas em algumas sessões. A resposta para a pergunta do título já está dada, no primeiro parágrafo do texto mesmo: o tarô é recurso tanto para o esoterismo e o divinatório quanto para a expansão da consciência, seja individualmente ou em processos terapêuticos conduzidos por profissionais.

Alegoria pagã

Um conjunto de 78 cartas divididas entre 22 arcanos maiores e 56 arcanos menores. Há incontáveis versões gráficas das cartas, desde o tradicional tarô de Marselha a um tarô surrealista ilustrado por Salvador Dalí, passando por imagens étnicas de indígenas norte-americanos e de orixás das religiões afro-brasileiras. Assim como não se pode afirmar que há uma representação gráfica verdadeira das cartas, não se pode reivindicar uma maneira correta de utilizá-lo ou interpretá-lo. É possível encontrar diversas técnicas descritas em manuais ou apreender ritos tradicionais de leitura transmitidos oralmente. Sem nunca desconsiderar a liberdade de quem manipula as cartas. 

Apesar de muitos autores já terem pesquisado a origem histórica do tarô, pouco se sabe sobre ela. Segundo Luis Pellegrini, no prefácio do livro Tarô de Marselha, de Carlos Godo, a primeira prova concreta de sua existência é um conjunto de cartas francesas do século 14. Sua origem é desconhecida - há quem defenda que nasceu no Egito, China ou Índia e tenha sido levado à Europa por ciganos. Pellegrini aposta na versão de que as cartas do tarô tenham sido elaboradas por sábios que, prevendo o ciclo de perseguições na Idade Média, criaram um sistema para preservar o essencial de seu conhecimento. Nas palavras de Pellegrini, seu raciocínio foi pragmático: “os homens entrariam numa fase de distração das preocupações espirituais. Assim, a própria distração poderia ser o meio mais adequado para preservar e transmitir o verdadeiro conhecimento”. 

Sallie Nicholls, autora do livro Jung e o tarô: uma jornada arquetípica, também apresenta a hipótese de que o tarô tenha sido desenvolvido como uma forma de contrabandear ideias da sabedoria ancestral que estavam em desarmonia com as autoridades da Igreja Católica. E assim, foram pintadas imagens alegóricas que condensariam em suas formas, figuras e cores o que se sabia sobre a humanidade, o universo, deus. Conhecimento considerado profundo travestido em cartas que pareciam superficiais.

Tarô e a psicologia analítica

 

Individuação, inconsciente coletivo, arquétipo e sincronicidade são conceitos propostos por Carl Gustav Jung, pai da psicologia analítica, que permitem compreender o uso do tarô como recurso terapêutico. A individuação é o processo pelo qual cada indivíduo se aproxima de sua singularidade e sua totalidade.

Segundo Lans Van der Post, que escreveu a introdução ao livro Jung e o Tarô, “quando um ser humano adquire determinado grau de autopercepção, é capaz de fazer escolhas diferentes das da multidão e de expressar-se de um jeito só seu. Tendo contato com o seu próprio e verdadeiro eu, já não será presa da tagarelice de outros eus, interiores e exteriores”. Para tanto, é necessário que estejam em equilíbrio o consciente e o inconsciente. A individuação é um processo a desenvolver durante toda a vida. Trata-se da integração de nossas partes: do consciente, aquilo que sabemos sobre nós mesmos e o mundo, e o inconsciente. 

Diferentemente de Freud, que definia o inconsciente como algo individual, moldado por nossas experiências, Jung reconhece o inconsciente individual, mas acrescenta a existência do inconsciente coletivo: uma camada mais profunda do inconsciente. Algo como a mente universal, “presente em toda parte e em todos os indivíduos”, nas palavras do próprio Jung. Uma camada energética que extrapola cada um de nós individualmente. 

Segundo Ana Luiza Feres, psicoterapeuta junguiana, o inconsciente coletivo é como uma biblioteca que reúne todo o conhecimento da humanidade - experiências, sentimentos, ações de todas as pessoas. O conteúdo desse inconsciente coletivo, cada um dos livros da biblioteca, na metáfora de Feres, são os arquétipos. Imagens que se repetem constantemente em diferentes lugares e diferentes gerações, padrões universais, conteúdos do inconsciente coletivo. 

Com alguns pacientes que se mostraram curiosos e atraídos pelas cartas, Feres já utilizou o tarô em sessões de psicoterapia. Ela ressalta que muitos terapeutas não se aprofundam no conhecimento a respeito do tarô ou da astrologia, por exemplo, com receio de serem chamados de charlatão. “Muitas pessoas foram queimadas na fogueira, na história da humanidade, por esse conhecimento. O tarô ainda carrega essa pecha. É necessário disseminar cada vez mais o conhecimento sobre o tarô e o inconsciente coletivo. Deixar evidente que não se trata, de maneira nenhuma ‘de trazer seu amor de volta em sete dias’, mas da busca de insights por meio dos arquétipos”. 

O processo terapêutico, para Jung, utilizaria técnicas verbais e técnicas expressivas (não-verbais) para auxiliar no processo de individuação. Para dissolver complexos, aquela sequência de experiências afetivas que modulam o jeito de pensar e agir no mundo, para se aproximar do eu mais verdadeiro, seria preciso conectar-se com o inconsciente – pessoal e coletivo. E os arquétipos seriam, para Jung, uma via poderosa de acesso ao inconsciente. Os contos mitológicos, os contos de fadas, a astrologia e o tarô carregariam símbolos universais que resgatam em cada indivíduo uma ligação psíquica com toda a humanidade. Como se cada um de nós tivesse uma raiz conectada a um terreno energético comum: o inconsciente coletivo.

Sincronicidade

 

Mas como uma carta ou uma sequência de cartas se conecta ao inconsciente coletivo, ao consciente e ao inconsciente de quem a manipula? Sincronicidade. Esse é o conceito junguiano para nomear dois ou mais eventos que não têm relação de causa e efeito entre eles, mas que estabelecem correlação. A consciência, focada na pergunta, afetaria energeticamente o entorno. 

Assim, a carta destacada aleatoriamente das demais ou a sequência em que as cartas são colocadas permitiriam uma interpretação simbólica do inconsciente que a consciência não alcançaria sem ter o tarô como ponte. 

Seja para uma cigana prever o futuro ou para facilitar o processo de individuação de um intelectual urbano, o tarô tem sido instrumento útil a pessoas espalhadas por todo o planeta. Passou pela Idade Média, pelo Renascimento e pela crença total na ciência moderna. Pode também ser útil nos tempos de crise atuais como ponte de acesso ao saber ancestral na compreensão de quem somos, do que sentimos e do que desejamos, seja como indivíduos ou como multidão que ocupa, ou assiste quem ocupa, as ruas. 

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Imagens: The Jungian Tarot

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