Enquanto o sol nos conduz a uma melhor
definição entre uma coisa e outra, a lua remete-nos a uma visão não muito clara
das coisas, pois o seu brilho tênue á noite, gera fusão entre as coisas,
distâncias e elementos criando por assim dizer, as chamadas ilusões.
Quando a noite cai, emerge o lado
emocional dos seres humanos e a necessidade de sair, namorar, falar coisas e
ficar com alguém, para que não nos sintamos sós diante da escuridão que paira
sobre a vida após o pôr do sol. Sendo a lua o astro de maior brilho durante a
noite, e estando ela segundo a Astrologia ligada aos aspectos emocionais, á
família e ao lar, temos diante de nós algo que nos fará pensar profundamente á
respeito de nossas emoções e de como lidamos com elas em relação a todo o mundo
que nos rodeia.
Para se compreender a natureza lunar é
nescessário um profundo mergulho dentro de nós mesmos, no sentido de realmente
querer descobrir o que se esconde no âmago de nossos seres, mesmo que ás vezes
esta viagem nos mostre coisas desagradáveis a nosso respeito.
E por que esta necessidade de nos depararmos com nossas
"trevas" interiores?
Porque quando fizermos isso de maneira
adulta e crescida o que restará em nós, será a luz da verdadeira consciência
livre de apegos, excessos, carências emocionais e toda uma série de coisas que
nos prende á uma realidade externa ilusória, criada por padrões internos
limitados inerentes ao ser humano desde o inicio dos tempos. Porque é mais
cômodo viver segundo estes padrões do que mergulhar em nossos pântanos internos
para procurar a flor-de-Lotus em meio a tanta lama, que até então havia sido
evitada.
Para chegarmos até o décimo oitavo
arcano passamos por situações complicadas quando tivemos que enfrentar arcanos
como o Enforcado, a Morte, o Diabo e a Torre. Estes arcanos nos ensinaram
lições á respeito de nós mesmos que nunca tínhamos entrevisto, nem mesmo
suspeitado que existissem. Mas não foi o suficiente, pois ainda falta o teste
final.
E o teste Final, é depararmo-nos com
nossas próprias trevas a nível interior. É encararmos de frente não os nossos
inimigos externos, porque isso é relativamente fácil. Mas sim encararmos a nós
mesmos, com todas as nossas imperfeições e o nossa lado trevoso que negamos
admitir que exista, principalmente porque estamos constantemente nos iludindo
com fatores externos, para que não pensemos nele.
Deparar-se com o arcano da Lua, é estar
rodeado pelas trevas de nossas próprias ilusões, e ter diante de nós um túnel
mais escuro e sombrio ainda, que teremos que percorrer caso queiramos alcançar
a Luz do arcano do Sol no fim de nossa passagem pelas trevas. E que este túnel
sombrio, verdadeiro mergulho nos profundos oceanos míticos e egóicos de nosso
ser, seja bem percorrido, pois não esqueçamos que depois do arcano dezenove- o
Sol- ainda passaremos pelo julgamento final da vigésima lâmina intitulada: o
Julgamento.
Além do lado voltado para profundas
reflexões internas, o arcano da Lua também está associado á intuição, á
feminilidade, á maternidade e a um número sem fim de fatores ligados á mulher.
Quando pensamos a nível de ocidente, no
que poderia dentro de um contexto mágico representar as mulheres em sua busca
pelo autoconhecimento, lembramo-nos sempre da Wicca e seu culto á divindades na
maioria das vezes essencialmente femininas. Uma das divindades wiccanianas mais
populares e cultuadas pelos adeptos da Antiga religião ou Arte por assim dizer,
é a chamada Tríplice Deusa Lua. E, antes de começarmos a descrição do arcano
propriamente dito, gostaríamos de brindar aos leitores e principalmente ás
leitoras com uma descrição detalhada á respeito desta deusa lunar, verdadeiro
ícone de força e poder para as bruxas de ontem, hoje e de todo o sempre.
A Tríplice Deusa Lua
Em muitas partes do mundo, a Deusa
original é referida como a Grande Deusa Lua, uma deidade trina e uma. Ela é a
grande trindade feminina de Donzela, Mãe e Anciã. E em muitas descrições
escritas, assim como nas obras de arte que sobreviveram, vemos essa tríplice
natureza- ás vezes retratada com três faces- refletida nas três fases da lua.
Também neste caso os primitivos adoradores humanos entenderam que um e o mesmo
poder ou mistério agia na mulher e na lua. Como escreveu Joseph Campbell, ‘A
observação inicial que deu origem na mente do homem a uma mitologia de um só
mistério animando coisas terrenas e celestes foi... a ordem celeste da lua
crescente, e a ordem terrena do ventre feminino’.
Assim, não só a Deusa estava refletida
nas três fases da Lua, mas os ciclos biológicos de toda mulher também
encontraram expressão. Cada mulher podia identificar-se com a Grande Deusa ao
identificador sua própria transformação corporal com o crescer e o minguar
mensais da Lua.
Os sortilégios e rituais de uma Bruxa
são sempre realizados em conjunção com as fases da Lua, e as bruxas alinham seu
trabalho mágico com seus próprios ciclos menstruais. Pala observação das três
fases lunares e a meditação sobre as tradições da Deusa a elas associadas,
descobrimos os poderes e mistérios especiais da Lua e a sabedoria impar que ela
nos ensina a cerca da Mãe Divina do Universo.
A donzela.
O crescente lunar, virginal e delicado, vai ficando mais forte e mais
brilhante noite após noite, parecendo cada vez mais alto no céu, até atingir o
plenilúnio. Vimos homens e mulheres de antanho representando esta fase da Lua
como uma donzela que vai crescendo e ficando mais forte a cada dia que passa.
Ela é a pura e independente caçadora e atleta que, na tradição das deusas
mediterrâneas, foi chamada Artemis ou Diana. Quando amadurece e se transforma
numa poderosa guerreira, ou Amazona, aprende e defender-se e aos filhos que
algum dia nascerão dela.
Em algumas culturas, essa Deusa livre e
independente é a senhora das coisas Selváticas e preside aos rituais de caça.
Segura em sua mão a trompa de caça, tirada das vacas e touros que são animais
especiais. A trompa tem a forma de uma lua em quatro crescente. Uma de suas
mais antigas representações é a estatueta com 21000 anos, descoberta na França
e batizada pelo arqueólogos com a vênus de Laussel. Representa uma mulher
pintada de ocra vermelha erguendo a trompa de caça num gesto triunfante. O
historiador de arte Siegfried Giedion classifica-a como ‘a representação mais
vigorosamente esculpida do corpo humano em toda a arte primitiva.’ Joseph
Campbell sublinha que, como personagem mítica- isto é, uma imagem de alguém que
transcende o meramente humano- ela era tão conhecida que ‘a referência da
trompa erguida teria sido... prontamente entendida.’ O que a humanidade da
Idade da Pedra facilmente entendeu foi que a mulher com a trompa podia garantir
o êxito da caça, visto que, como mulher, ela conhecia os mistérios profundos e
os movimentos dos rebanhos selvagens. Ironicamente, a linguagem que nossos
historiadores contemporâneos tem usado tradicionalmente para falar dos
caçadores da Era Glacial fala de violência, matança e homens. Entretanto como
assinala o historiador William Irwin Thompson, ‘cada estátua e pintura que
descobrimos proclama que esta humanidade da Era Glacial era uma cultura de
arte, amor aos animais, e mulheres’.
A mãe.
A lua cheia, quando o céu noturno está inundado de luz, é representada como a
Deusa-Mãe, seu ventre inchado de nova vida. Bruxas e magos, em toda parte,
sempre consideraram ser esse um tempo de grande poder. É um tempo que nos atrai
para lugares sagrados, como as fontes e grutas escondidas que as mulheres
neolíticas poderiam ter usado como seus lugares originais para dar a luz. Em
seu fascinante estudo The Great Mother, Erich Neumann sugere: ‘O mais antigo
recinto sagrado da era primordial era provavelmente aquele onde as mulheres
davam á luz.’ Ai, as mulheres podiam recolher-se ao seio da Grande Mãe e, em
privacidade e nas proximidades de água fresca e corrente, pariam em segurança e
de maneira sagrada. E assim, até os dias de hoje, templos, igrejas, bosques
sagrados e santuários têm uma quietude e uma qualidade uterinas que sugerem
proteção e segurança em relação ao mundo dos homens, á guerra e ás
interrupções. Quando ingressamos nesses lugares de silêncio e calma, muitas
vezes como que iluminados pela luz da lua cheia, sentimo-nos nascidos numa vida
mais sagrada e mais próximos da fonte de toda a vida.
No aspecto materno do plenilúnio, a
Deusa da Caça também se torna a Rainha da Colheita, a Grande Mãe do Milho que
derrama a sua Abundância por toda a terra. Os romanos chamavam-na Ceres, de
cujo nome derivou a palavra ‘cereal’. É a mesma que a grega Deméter, um nome
composto de D, a letra feminina delta, e méter, ou ‘mãe’. Na Ásia, ela era
chamada ‘A porta do Misterioso Feminino...a raiz donde brotaram o céu e a
Terra.’ Na América, ela era a Donzela do Milho, que trazia o milho para
alimentar o povo. Em todas as suas manifestações, ela é a fonte de safras de
vegetação que se convertem em nossos alimentos. Quando ela vai embora nos meses
de inverno- como Deméter procurando sua Filha Kore no inverno- a terra fica
estéril. Quando ela retorna na primavera, tudo reverdece uma vez mais.
Em muitas tradições do Oriente Médio,
do Mediterrâneo e da antiga Europa, a Deusa-Mãe dá a luz um filho, um jovem
caçador que, a seu tempo, converte-se em seu amante e cônjuge. Embora isso
possa soar contraditório e incestuoso a ouvidos modernos, devemos ter em mente
que, como ‘tipos míticos’, todas as mulheres são mães para todos os homens e
todos os homens são filhos adultos.
De acordo com muitas lendas antigas, o
‘jovem Deus deve morrer’. Neste ponto, verificamos que o antigo mito e os
costumes sociais se alinham. Como as mulheres eram vitais para a sobrevivência
da tribo, pois só elas podiam partir e alimentar os recém-nascidos, a perigosa
tarefa de espreitar, perseguir e matar animais selvagens passou a ser
responsabilidade dos homens. Por volta de 7000 antes da era cristã, o filho da
Mãe Divina estava razoavelmente bem-estabelecido nas lendas europeias como um
Deus Caçador, muitas vezes representado, usando chifres. Havia razões
estratégicas e sacramentais para isso. Como ritual, o capacete ornado com
chifres homenageava o espirito do animal que ele esperava matar. Nos ritos religiosos
que implicavam êxtase, uma pessoa converte-se no Deus ou Deusa que está sendo
cultuado vestindo-se, falando e agindo como a deidade. Assim, ao usar os chifres
e as galhadas, o caçador tornou-se o caçado em corpo, mente e espírito. Ele
assemelhava-se á presa; pensava como a presa; consubstanciava o espirito de sua
presa. Pensava-se que a identificação com o animal caçado assegurava uma caçada
bem-sucedida.
Estrategicamente, o caçador envergava
os próprios chifres e a pele do animal por segurança e para garantir o êxito da
jornada. Ocultando suas formas e cheiros humanos, ele podia acercar-se do
rebanho ou da manada sem espantar os animais. Os índios americanos vestiam
capas de peles de búfalo, completando-as com as cabeças e os chifres, á fim de
se aproximarem de um búfalo desde os mais recuados tempos até quase o final do
século XIX. Tocaiar e matar um grande animal armado de chifres era perigoso.
Muitos caçadores foram escornados ou atropelados até a morte. Em redor das
fogueiras tribais, o caçador vitorioso era homenageado e recebia os chifres ou
galhadas do animal chacinado para usar como troféu de vitória e expressão de
gratidão por parte da tribo, já que ele pusera a sua vida em perigo. Com o
tempo, o caçador filho da Grande Deusa Passou a ser preiteado como um Deus
Cornífero, e sua disposição para sacrificar a vida pelo bem da comunidade foi
celebrada em canções e no ritual.
O caçador encontrou frequentemente a
morte nos meses de inverno, a época da caça em que o gelo é espesso e a carne é
facilmente visto na natureza, quando o sol fica débil e pálido tudo parece
morto ou adormecido, e as longas noites invernais encorajavam os nossos
ancestrais da Idade da Pedra a recolher-se á escuridão trépida de suas
cavernas. Era a época do gelo e da morte. Joseph Campbel diz-nos em The Way of
the Animal Powers que ‘o desaparecimento e reaparecimento anual das aves e dos
animais selvagens também deve ter contribuído para esse sentimento de um
mistério geral urdido pelo tempo’, um mistério que faz toda as coisas terem seu
tempo para morrer e renascer. Uma religião baseada nos ciclos da natureza faria
disso uma verdade sagrada. Aqueles que seguiram essa religião puderam celebrar
até a estação da morte, por saberem que a ela se seguiria uma estação de
renascimento. Se o filho deve morrer, ele renascerá, tal como o sol voltaria na
primavera. A terra e a mulher cuidam disso. Esses eram os mistérios da Grande
Deusa-Mãe, o Grande ventre da Terra.
Na Grã-Bretanha e na Europa do
Noroeste, no Ohio e no Mississipi e em muitas outras partes do globo, as
lavouras neolíticas construíram grandes cômoros de terra. Segundo Sjoo e Mor,
‘o formato de colmeia de tantos cômoros de terra e neolíticos era intencional e
simbólico. A apicultura era uma metáfora para a agricultura sedentária e para a
pacifica abundância da terra nesses tempos. E a abelha era como a lua-cheia,
produzindo iluminação á noite.’ No formato dos seis pletóricos da Deusa do Leite,
no formato da colmeia governada pela grande abelha Rainha, os cômoros da terra
eram frutos do esforço humano para inchar a superfície do solo de modo a
assemelhar-se as colinas e montanhas que eram cultuadas como os seios e o
ventre sagrados da Deusa. A metáfora da colmeia recorda as histórias de ‘terras
onde correm o leite e o mel’ –o leite das mães, o mel dourado da Rainha... Da
África e da Trácia chegam lendas de mulheres guerreiras que se alimentam de mel
e leite de égua. Seja qual for a forma como o encontramos, todo nutrimento
promana da Deusa da Terra e da Lua, e todas as mães são fortes por causa do
poder que seus corpos encerram.
Quando traço um circulo mágico sob a
lua-cheia, eu puxo seu poder para baixo e para dentro do cálice de cristalina
água da fonte que seguro em minhas mãos. Quando pouso meu olhar no cálice, vejo
meu próprio rosto no reflexo prateado da lua. Então, no momento certo, mergulho
minha adaga ritual no cálice, fendendo a água, despedaçando a imagem da lua em
muitos fragmentos menores, como estilhas de cristal. Lentamente deliciosamente,
bebo o poder e a energia da lua. Sinto-a deslizar pela minha garganta, até
retinir e formigar por meu corpo todo. A Deusa está então dentro de mim. Eu
engoli a lua.
Quando as bruxas colocam seus pés e
mãos num tanque, lago ou qualquer poça de água sob a lua cheia, elas sorvem o
poder refletido da lua através dos dedos das mãos e dos pés. Atraímos sua
energia para os nossos corpos quando nadamos ao luar. Os antigos rituais
exigiam o cozimento de poções sob uma lua cheia, para que a própria lua da
Deusa pudesse ser mexida na infusão. Mesmo dentro de casa, nos frios invernos
da nova Inglaterra, reunindo-se em meu living em torno da lareira, o meu grupo
de bruxas traz o formato de lua cheia para a nossa presença ao dispor-se num
circulo. Ou uma única vela refletida no cálice ajuda-nos a imaginar a lua,
projetando um fulgor mágico em que as coisas invisíveis ou ocultas podem ser
vistas.
A Anciã.
Em algum ponto da vida de toda mulher o ciclo menstrual cessa. Ela deixa de
sangrar com a lua. Passa a receber seu sangue para sempre, ou assim deve ter
parecido aos nossos ancestrais. Conserva seu poder e, portanto, é agora
poderosa. É a sábia anciã. Como a Lua em quatro minguante, seu corpo encolhe,
sua energia declina e, finalmente, ela desaparece na noite escura da morte, o
corpo é devolvido á terra e, um dado momento, ela renascerá viçosa e virginal
como a lua nova em sua primeira noite visível, suspensa no céu ocidental no
pôr-do-sol.
A Deusa Grega Hécate, Deusa da Noite,
da morte e das Encruzilhadas, encarnou essa Anciã. Seu governo durante a
ausência da lua tornou a noite excepcionalmente tenebrosa. Os assustados
renderam-lhe preito durante essas três noites, buscando seu favor e proteção.
Onde quer que três estradas se
cruzassem, Hécate podia ser encontrada, pois ai a vida e a morte passavam uma
pele outra, segundo se acreditava. Ainda hoje as bruxas deixarão bolos nas
encruzilhadas ou nos bosques á sombra da lua para homenageá-la.
Dizia-se que, a morte, Hécate reunia-se
ás almas dos defuntos e as conduzia ao mundo subterrâneo.* No Egito a Deusa das
parteiras, visto que o poder que leva as almas para a morte é o mesmo poder que
as puxa para a vida. E assim Hécate passou a ser conhecida como a Rainha das
bruxas da Idade Média, pois as anciãs versadas nos costumes e procedimentos de Hécate
eram as parteiras. Graças aos muitos anos de experiência, elas adquiriram os
conhecimentos práticos que as habilitavam não só a ajudar nos partos, mas
também na obtenção dos insights espirituais que pudessem explicar o mistério do
nascimento.
E assim, do nascimento á puberdade, á
maternidade, á velhice e a morte, o eterno retorno da vida é intimamente
inseparável de toda mulher, não importa em que fase de sua vida ela se encontre
no momento. O eterno retorno da vida é visto e sentido em todas as estações da
Terra. E não existe fase ou ponto na roda que seja esquecido ou menosprezado
nas celebrações anuais de uma Bruxa.
Assim novos ancestrais se maravilharam,
se indagaram e renderam culto. Assim compreenderam seu lugar nos grandes
mistérios da criação e descobriram
um significado para suas vidas. E assim as Bruxas continuam hoje os antigos
costumes e a fazer da vida algo sacrossanto.
Extraído do livro ‘O Poder da Bruxa’ da
escritora Laurie Cabot que é uma autêntica Bruxa da cidade de Salem,
Massachussets USA.
Os símbolos que compõem o arcano da lua
A lua
paira sobre um campo ermo, árido e desértico, e no seu ato de iluminá-lo
forma trevas, blumas e névoas, que representam as próprias ilusões que criamos
á respeito de nós mesmos, á respeito da sociedade que vive em torno de nós e a
respeito de quase tudo o que nos rodeia. Porque é natural do ser humano perante
suas trevas interiores ou situações complicadas exteriores criar ilusões que o
auxiliem a lidar de maneira menos traumática com os seus obstáculos e
obstruções do dia-a-dia.
Esta mesma lua que ilumina os campos
desérticos representa também, dentro da mitologia grega, a deusa Hécate
soberana dos ritos mágicos e da magia, senhora das trevas, mortes,
renascimentos e do destino. O encontro com Hécate é o encontro com o próprio
inconsciente. Um profundo mergulho nas águas do inconsciente coletivo onde
estão os grandes mitos e símbolos religiosos, a imaginação e a busca do ser
humano pela individualidade que constitui uma pequena parte dentro deste mundo
caótico e subjetivo, onde tudo parece ser uma coisa só, mas sem no entanto
representar esta coisa única, a Divindade, uma vez que este é um mundo ilusório
onde nada é o que parece ser.
Ego, individualidade e sentido de
direção não mais existem no mundo da lua, estando diluídos, fazendo com que nos
sintamos submersos nas águas do inconsciente á espera da manifestação de novos
potenciais ainda em gestação, representando estes potenciais o futuro em que
basearemos as nossas vidas. As águas turvas do inconsciente coletivo possuem
uma realidade dúbia que contém em si ao mesmo tempo o nosso lado mais positivo,
e também o mais negativo e, justamente por ambos fazerem parte de um único
contexto dentro deste arcano, podemos ter ao mesmo tempo loucura e alucinação
por falta de maior discernimento no uso de nossos potenciais.
Apesar da lua representar também
maternidade e gestação de uma nova vida, antes do nascimento é necessário o
cessar de medos, ansiedades e depressões oriundas daquilo que temos guardado e
mal- resolvido dentro de nós a nível inconsciente. Nós deparamos neste arcano
com nossas trevas interiores mais amedrontadoras e ficamos cara-a-cara com
nossos medos e incertezas, para que possamos resolvê-los, pois a passagem
corajosa determinada e consciente pelas trevas a fim de que realmente possamos
saber quem somos, terá como recompensa a Luz Maior do Sol que será o próximo
arcano a ser estudado. A negação do confronto com o nosso lado sombrio de
maneira adulta e consciente somente acrescentará em nosso futuro mais
problemas, uma vez que não podemos fugir eternamente de nós mesmos quando chega
o momento da resolução.
As duas
imponentes torres, tendo a lua a brilhar por entre elas e um caminho
protegido por feras, representam a falsa segurança, que não pressente os
perigos desconhecidos mais temíveis que aqueles que conhecemos. Estas torres
formam uma espécie de portal que necessita ser transposto, embora isso não
possa ser feito sem um certo risco de sermos devorados pelo lobo e pelo cão que
velam a passagem por este portal como verdadeiras sentinelas. Esta imagem é uma
alusão aos ‘ritos de passagem’ presentes em todas as tradições, culturas e povos
espalhados pelo planeta Terra. Os ritos de passagem, principalmente aqueles que
passamos para que possamos ser aceitos dentro de nossa sociedade, representam
fases de inquietude onde paira sobre nós uma grande ansiedade, pois não sabemos
se vamos ser aceitos ou não e nem se conseguiremos abandonar as antigas formas
em que havíamos baseado a nossa vida e já estabelecido através das mesmas, uma
certa zona-de-conforto. Um bom exemplo para o que estamos falando são os ritos
de maioridade judaica, onde o jovem com treze anos é já considerado como um ser
responsável por ele mesmo; as festas de debutantes das moças de quinze anos,
onde as donzelas são apresentadas para a sociedade; os ritos de passagem de
jovens das diversas tribos indígenas espalhadas pelo mundo; a saída do
adolescente do ginásio e o seu ingresso no colegial e posteriormente na
faculdade onde através dos "trotes' ele é aceito pelos veteranos dentro de uma
nova sociedade e fase em sua vida e, por fim a primeira experiência sexual de
um(a) jovem que realmente constitui um sério marco na vida da pessoa.
Todos os exemplos citados acima,
constituem ritos de passagem por entre duas torres de ilusória segurança, pois
nestes momentos de nossas vidas a única coisa que temos é uma vontade de
crescer e sobressair perante um determinado contexto, embora não tenhamos muita
a certeza de como fazer isso. É a entrega ao próprio destino com muita fé
pessoal para que, após transposto o obstáculos, realmente percebamos que na
realidade ele nem era tão grande assim e teve o seu tamanho e importância
consideravelmente aumentado, por aquilo que ilusoriamente acreditávamos que
‘iria acontecer’ sem no entanto termos certeza de coisa alguma.
Ritos de passagem não se referem apenas
á fase de adolescência, mas também manifestam-se muitas vezes do decorrer de
uma existência, quando realmente nos sentimos perdidos e sem nenhum ponto de
apoio, completamente amedrontados por nossas feras interiores. Nestes momentos
de decisão em que normalmente encontramo-nos sobre pressão, surgem lampejos,
insights e intuições oriundas do nosso inconsciente a guiar-nos por um bom
caminho, para que cheguemos em segurança a uma nova fase em nossas vidas. Estes
lampejos, insights e intuições são de natureza inconsciente, portanto lunar.
Meditai...
Podemos notar que entre as duas colunas
existem três animais a saber: o cão, o
lobo e o escorpião. Em alguns Tarôs ao invés de um lobo e um cão estão
entre as torres dois chacais e no pequeno lago de águas turvas ao invés do
escorpião o que encontramos é um caranguejo. Passemos agora á análise destes
animais, em primeiro lugar dentro de uma visão mais popular muito comum aqueles
que associam o arcano dezoito aos chamados ‘inimigos ocultos’.
O cão é visto como representante daquele tipo de pessoa falsa e traiçoeira
que pela frente nos cobre de elogios, mas por trás tece comentários no mínimo
desagradáveis á nosso respeito. É o típico falso amigo, existente em todos os
tipos de sociedade da raça humana.
O lobo representa aquela pessoa bruta, e muitas vezes de espirito ignorante,
que já não vai com a nossa cara logo de inicio e nos diz francamente que não
gosta de nós. Neste aspecto o lobo é bem mais digno que o cão, que esconde suas
traições sob vis adulações.
O caranguejo é o tipo de pessoa que quando nos encontramos lá embaixo por causa de
problemas e aflições relativas á vida cotidiana, vai lá e pisa mais ainda sobre
os nossos corpos já em muito dilacerados pelas atribulações do dia-a-dia.
Passando agora á uma análise já não tão
popular dos animais, teríamos o seguinte quadro:
Os dois chacais estariam associados á Anúbis, deus egípcio da Justiça, a observar
atentamente a passagem por entre as torres, para poderem checar os méritos de
uma pessoa antes que ela mergulhe na experiência de encarar as suas trevas
interiores das quais as externas são apenas um reflexo. Também estes chacais
que representam juízes, simbolizariam o julgamento a que somos expostos após
nos confrontarmos com o nosso lado mais sombrio e escuro e trabalharmos com ele
á fim de que possamos nos depurar. Após a depuração o que ocorre é um
julgamento onde somos analisados com o objetivo de saber até onde evoluímos e o
quanto ainda nos falta evoluir.
O escorpião representa a necessidade de, tal como os nativos deste signo,
buscarmos as profundas verdades por detrás deste mundo superficial e ilusório
em que vivemos mergulhados praticamente vinte e quatro horas por dia. É o
mergulho nas águas turvas, confusas e complexas de um sistema, de uma sociedade
e inerentes ao próprio ser humano, para que possamos realmente descobrir o que
existe por detrás da vida em todos os seus contextos. Porque: ‘Quem sou eu?’,
‘o que significam as coisas que ocorrem ao meu redor? ‘; Serão meras
coincidências, ou já existirá um plano predeterminado traçado por nós antes
mesmo do encarnar, e que agora precisa ser cumprido?’
Estas perguntas só são respondidas quando aceitamos dar o mergulho. O
salto em direção ás trevas turvas de nosso oceano inconsciente, para
recuperarmos nossa identidade como Essências Divinas em evolução há muito
perdidas por causa da nossa necessidade há muito perdidas por causa da nossa
necessidade de constante auto- ilusão, para que não vejamos profundamente o que
se esconde em nosso coração.
As águas turvas representam nossas incertezas, inseguranças e emoções mal resolvidas,
mas também elas tem associação com uma espécie de útero de onde renascerá um
novo ser, para uma nova vida mais plena e abundante. Quando finalmente o sol
raiar no céu anunciando o fim da noite em nossas vidas e começo de novos dias,
após a confrontação com as trevas da dúvida que ativaram em nós a necessidade
de buscar a nível interno e não mais externo um ponto de apoio verdadeiro
baseado no que francamente acreditamos, por que sabemos que é real. E tudo aquilo que realmente sabemos a
nível de certezas internas é porque verdadeiramente sentimos com o nosso
coração. E o que sentimos com o nosso coração, transcende a necessidade de
explicação racional, porque aí se encontra o momento do milagre em nossas
vidas, aí está o mistério. A luz boa que nos faz voltar a crer que a vida pode
ser diferente e melhor, porque confrontamos nossos demônios internos e agora
acalentar- nos vêm os anjos do Senhor, nossa Consciência ou seja lá que Nome
queiramos dar a esta ‘Força Superior’. Agora sim, acalentados merecemos ser e
amparados pela Divina Misericórdia da Providência, porque quando chegaram as
trevas da Lua e a noite se fez presente em nossas vidas, raiamos nosso Sol
Interno e atravessamos o ‘vale da morte’ (o portal formado pelas duas torres),
sabendo que o Senhor (Força superior que nos guia quando nos desfazemos de
nossas ilusões), verdadeiramente era o nosso pastor e nada nos faltaria...
Significado do 18° Arcano- A Lua
Com este arcano de natureza lunar, o
que temos em nossas vidas é um período de incertezas e flutuações rumo ao não
palpável em várias áreas de nossas existência. Não existe mais o ego porque ele
foi diluído, e agora nos sentimos perdidos, drenados e meio que sem vontade
própria para tomar decisões perante as questões do nosso dia-a-dia, desde as
mais triviais até as mais complexas. Nos sentimos exauridos, cansados e
desanimados, sem ter a certeza do que realmente queremos, ou vivemos uma vida
de falso querer orientado pelo nosso lado mais egóico e irracional, não vendo
que com isso vamos cada vez mais nos afogando nas escuras águas de nossas
próprias ilusões.
Não é rara, com a presença deste arcano
num jogo, a sensação de perseguição do cliente em relação á sociedade e pessoas
que o cercam, achando ele que todos estão a conspirar contra o seu sucesso e
contra a vida plenamente tranquila e feliz que tanto almeja. O cliente sente-se
bloqueado e confuso, e neste momento de noite em sua existência, por não
entender que fases assim de menos progresso externo para que se faça uma auto- análise
interna são necessárias, ele começa a criar em torno de si idéias fantasiosas
onde ‘alguém fez um trabalho para ele’, ‘sua vida não deslancha por que lhe
botaram olho-gordo’ e tantas outras baboseiras que nem vale a pena citar. A
crença de que alguém possuiria um poder para nos fazer mal é fruto da
ignorância do ser humano á respeito de seus ilimitados potenciais a nível
interior, através dos quais bem compreendidos e harmonizados, não há ‘trabalho’
que o possa atingir. O melhor remédio para olho-gordo é um ‘colírio dietético’
e parar de acreditar que sobre a terra caminha alguém que possa fazer mal ou
bloquear a sua vida, pois este ‘demoníaco ser’ não existe nem sobre a terra e
muito menos ‘além dela’...
Eu gostaria de saber, quando as pessoas
vão começar a acreditar e aceitar o fato de que: 'Nós somos os únicos responsáveis por tudo aquilo que nos acontece sendo a nossa vontade a única força diretriz causal que move e orienta as nossas vidas'. Quando os seres
humanos vão começar a acreditar e trabalhar com este fato, e parar de atribuir os seus insucessos a alguma ‘força
estranha, praga ou demônio,’ que não os nossos próprios demônios internos
criados, mimados e alimentados por nós mesmos, quando ao invés de buscar uma
real evolução e sentido real das coisas nos perdemos em ridículos joguinhos
visando a satisfação do ego, por desconhecermos completamente que o que
verdadeiramente vale, apita e conduz o jogo da vida é a vontade da nossa
Essência Interna, parte de Deus viva e pulsante dentro de nós? Quando?
Muitos leitores diriam que a nossa
existência não é controlada unicamente por nossa vontade, mas também pela
vontade de Deus. E neste momento eu pergunto a estes leitores o que somos nós,
se não o próprio Deus?
É verdade que somos deuses imperfeitos
ainda com muito a evoluir, mas dentro de cada um de nós, existe uma Centelha
Divina que nada mais é do que o próprio Deus presente em nós, tornando-nos deuses
cocriadores da sua obra. Mesmo que a vontade de Deus interfira em nossas vidas,
temos sempre que lembrar que se é a vontade Deus que está influindo em minha
existência, então eu posso ficar tranquilo porque eu também sou deus, como o
leitor também o é e, como todos os nossos irmãos no planeta Terra também o são.
A aceitação deste simples fato já nos liberta de um monte de falsas ideias
depressivas, pessimistas e negativas que nos colocam sempre como pobre-coitados
á merece de algo maior, que analisado friamente nada mais é do que um estágio
bilhões de vezes mais evoluído que nós mesmos. Mas continuamos nós mesmo sendo
‘este algo maior’. Este fato é incontestável!
Com a retirada do arcano da Lua em uma
consulta é como se nos encontrássemos num período de gestação onde a única
certeza que temos é que não temos certeza de coisa alguma. Nesta fase são
improváveis muitos resultados positivos em todas as áreas de nossas vidas,
porque o momento não é de resultados e sim de parada geral em nossas atividades
para que possamos analisar até melhor esclarecer o que fizemos, porque
realmente amamos e, o que fazemos contra a nossa vontade, iludindo-nos de que
aquela tarefa realmente é boa para nós quando não o é.
Seria um momento de frieza cotidiana,
onde não devemos contar com o apoio de pessoas para resolver os nossos
problemas, e devemos buscar mais a
solidão e introspecção em nossas casas, nas relações de amizade mais íntima ou,
se tivermos a oportunidade de viajar para um lugar bem afastado e de
preferência onde ninguém nos conheça, para que possamos repensar alguns pontos
de nossa vida enquanto esperamos este inverno passar, para no devido tempo
nascermos novamente e caminharmos em direção á uma nova luz.
O arcano da lua não é um arcano
negativo pois como já foi dito não existem arcanos negativos, e quando algo de
negativo ocorre na vida da pessoa quase sempre é porque ela está deixando de
fazer alguma coisa que deveria, ou porque está em desarmonia com as Leis
naturais e universais que regem o ser humano, a vida e o todo.
Diante da Lua nos vemos envoltos pela
noite e da mesma maneira que ao cair do sol as pessoas se recolhem em seus
lares, ou tratam de assuntos de uma natureza mais emocional, nós também devemos
buscar o recolhimento na fase de vida regida por este arcano lunar e também
devemos realizar uma profunda e útil auto- análise para que vejamos atualmente
qual é o nosso quadro emocional, uma vez que se este lado do nosso ser não
caminha bem, dificilmente qualquer outro aspecto de nossa vida caminhará.
Mergulhados em meio a incertezas e
indecisões e não sabendo em quem confiar, só nos resta apreender com este período
que precede o nascimento e usar como bússola guia em nossas vidas o silêncio, a
prudência, e a intuição recolhendo-nos á Paz dentro do nosso Coração. Para que
no devido tempo, depois de passado e inverno lunar em nossas existências,
possamos desfrutar de uma nova, radiante e mais abundante vida que com certeza
chegará com a primavera já anunciando um renascimento com muita Luz, antevendo
um luminoso verão para aquele que se deixou iluminar pelo Sol Interno da
Verdadeira Razão.
O Caminho na árvore da vida (cabala).
REFERÊNCIA DE ESTUDO:
__________________________________
Segredos do Eterno. Alexandre José Garzeri
O TarotCabalístico - um manual de filosofia Mística. Robert Wang
IMAGENS E DECKS (fotos)
THOTH CROWLEYO TarotCabalístico - um manual de filosofia Mística. Robert Wang
MARSELHA
RADIANT RIDER WAITE
BARBARA WALKER
TAROT NAMUR
TAROT ANTICHI BOLOGNESI
TAROT ANCIENT ITALIAN
Isso não é um texto sobre a Lua, é um tratado! E que tratado. Meu amigo, continue. O seu trabalho tem sido cada vez mais poderoso. Grande abraço!
ResponderExcluirPoxa Leo! agradeço de coração por acompanhar o trabalho e estar gostando. Você sabe que sua opinião é de fundamental importância e incentivo.
ResponderExcluirObrigado mesmo! um grande abraço mano.