domingo, 4 de setembro de 2011

La Luna / A Lua / Arcano 18

Enquanto o sol nos conduz a uma melhor definição entre uma coisa e outra, a lua remete-nos a uma visão não muito clara das coisas, pois o seu brilho tênue á noite, gera fusão entre as coisas, distâncias e elementos criando por assim dizer, as chamadas ilusões.

Quando a noite cai, emerge o lado emocional dos seres humanos e a necessidade de sair, namorar, falar coisas e ficar com alguém, para que não nos sintamos sós diante da escuridão que paira sobre a vida após o pôr do sol. Sendo a lua o astro de maior brilho durante a noite, e estando ela segundo a Astrologia ligada aos aspectos emocionais, á família e ao lar, temos diante de nós algo que nos fará pensar profundamente á respeito de nossas emoções e de como lidamos com elas em relação a todo o mundo que nos rodeia.

Para se compreender a natureza lunar é nescessário um profundo mergulho dentro de nós mesmos, no sentido de realmente querer descobrir o que se esconde no âmago de nossos seres, mesmo que ás vezes esta viagem nos mostre coisas desagradáveis a nosso respeito.

 E por que esta necessidade de nos depararmos com nossas "trevas" interiores?

Porque quando fizermos isso de maneira adulta e crescida o que restará em nós, será a luz da verdadeira consciência livre de apegos, excessos, carências emocionais e toda uma série de coisas que nos prende á uma realidade externa ilusória, criada por padrões internos limitados inerentes ao ser humano desde o inicio dos tempos. Porque é mais cômodo viver segundo estes padrões do que mergulhar em nossos pântanos internos para procurar a flor-de-Lotus em meio a tanta lama, que até então havia sido evitada.

Para chegarmos até o décimo oitavo arcano passamos por situações complicadas quando tivemos que enfrentar arcanos como o Enforcado, a Morte, o Diabo e a Torre. Estes arcanos nos ensinaram lições á respeito de nós mesmos que nunca tínhamos entrevisto, nem mesmo suspeitado que existissem. Mas não foi o suficiente, pois ainda falta o teste final.

E o teste Final, é depararmo-nos com nossas próprias trevas a nível interior. É encararmos de frente não os nossos inimigos externos, porque isso é relativamente fácil. Mas sim encararmos a nós mesmos, com todas as nossas imperfeições e o nossa lado trevoso que negamos admitir que exista, principalmente porque estamos constantemente nos iludindo com fatores externos, para que não pensemos nele.

Deparar-se com o arcano da Lua, é estar rodeado pelas trevas de nossas próprias ilusões, e ter diante de nós um túnel mais escuro e sombrio ainda, que teremos que percorrer caso queiramos alcançar a Luz do arcano do Sol no fim de nossa passagem pelas trevas. E que este túnel sombrio, verdadeiro mergulho nos profundos oceanos míticos e egóicos de nosso ser, seja bem percorrido, pois não esqueçamos que depois do arcano dezenove- o Sol- ainda passaremos pelo julgamento final da vigésima lâmina intitulada: o Julgamento.

Além do lado voltado para profundas reflexões internas, o arcano da Lua também está associado á intuição, á feminilidade, á maternidade e a um número sem fim de fatores ligados á mulher.

Quando pensamos a nível de ocidente, no que poderia dentro de um contexto mágico representar as mulheres em sua busca pelo autoconhecimento, lembramo-nos sempre da Wicca e seu culto á divindades na maioria das vezes essencialmente femininas. Uma das divindades wiccanianas mais populares e cultuadas pelos adeptos da Antiga religião ou Arte por assim dizer, é a chamada Tríplice Deusa Lua. E, antes de começarmos a descrição do arcano propriamente dito, gostaríamos de brindar aos leitores e principalmente ás leitoras com uma descrição detalhada á respeito desta deusa lunar, verdadeiro ícone de força e poder para as bruxas de ontem, hoje e de todo o sempre.

A Tríplice Deusa Lua

Em muitas partes do mundo, a Deusa original é referida como a Grande Deusa Lua, uma deidade trina e uma. Ela é a grande trindade feminina de Donzela, Mãe e Anciã. E em muitas descrições escritas, assim como nas obras de arte que sobreviveram, vemos essa tríplice natureza- ás vezes retratada com três faces- refletida nas três fases da lua. Também neste caso os primitivos adoradores humanos entenderam que um e o mesmo poder ou mistério agia na mulher e na lua. Como escreveu Joseph Campbell, ‘A observação inicial que deu origem na mente do homem a uma mitologia de um só mistério animando coisas terrenas e celestes foi... a ordem celeste da lua crescente, e a ordem terrena do ventre feminino’.

Assim, não só a Deusa estava refletida nas três fases da Lua, mas os ciclos biológicos de toda mulher também encontraram expressão. Cada mulher podia identificar-se com a Grande Deusa ao identificador sua própria transformação corporal com o crescer e o minguar mensais da Lua.

Os sortilégios e rituais de uma Bruxa são sempre realizados em conjunção com as fases da Lua, e as bruxas alinham seu trabalho mágico com seus próprios ciclos menstruais. Pala observação das três fases lunares e a meditação sobre as tradições da Deusa a elas associadas, descobrimos os poderes e mistérios especiais da Lua e a sabedoria impar que ela nos ensina a cerca da Mãe Divina do Universo.

A donzela. O crescente lunar, virginal e delicado, vai ficando mais forte e mais brilhante noite após noite, parecendo cada vez mais alto no céu, até atingir o plenilúnio. Vimos homens e mulheres de antanho representando esta fase da Lua como uma donzela que vai crescendo e ficando mais forte a cada dia que passa. Ela é a pura e independente caçadora e atleta que, na tradição das deusas mediterrâneas, foi chamada Artemis ou Diana. Quando amadurece e se transforma numa poderosa guerreira, ou Amazona, aprende e defender-se e aos filhos que algum dia nascerão dela.  

Em algumas culturas, essa Deusa livre e independente é a senhora das coisas Selváticas e preside aos rituais de caça. Segura em sua mão a trompa de caça, tirada das vacas e touros que são animais especiais. A trompa tem a forma de uma lua em quatro crescente. Uma de suas mais antigas representações é a estatueta com 21000 anos, descoberta na França e batizada pelo arqueólogos com a vênus de Laussel. Representa uma mulher pintada de ocra vermelha erguendo a trompa de caça num gesto triunfante. O historiador de arte Siegfried Giedion classifica-a como ‘a representação mais vigorosamente esculpida do corpo humano em toda a arte primitiva.’ Joseph Campbell sublinha que, como personagem mítica- isto é, uma imagem de alguém que transcende o meramente humano- ela era tão conhecida que ‘a referência da trompa erguida teria sido... prontamente entendida.’ O que a humanidade da Idade da Pedra facilmente entendeu foi que a mulher com a trompa podia garantir o êxito da caça, visto que, como mulher, ela conhecia os mistérios profundos e os movimentos dos rebanhos selvagens. Ironicamente, a linguagem que nossos historiadores contemporâneos tem usado tradicionalmente para falar dos caçadores da Era Glacial fala de violência, matança e homens. Entretanto como assinala o historiador William Irwin Thompson, ‘cada estátua e pintura que descobrimos proclama que esta humanidade da Era Glacial era uma cultura de arte, amor aos animais, e mulheres’.

A mãe. A lua cheia, quando o céu noturno está inundado de luz, é representada como a Deusa-Mãe, seu ventre inchado de nova vida. Bruxas e magos, em toda parte, sempre consideraram ser esse um tempo de grande poder. É um tempo que nos atrai para lugares sagrados, como as fontes e grutas escondidas que as mulheres neolíticas poderiam ter usado como seus lugares originais para dar a luz. Em seu fascinante estudo The Great Mother, Erich Neumann sugere: ‘O mais antigo recinto sagrado da era primordial era provavelmente aquele onde as mulheres davam á luz.’ Ai, as mulheres podiam recolher-se ao seio da Grande Mãe e, em privacidade e nas proximidades de água fresca e corrente, pariam em segurança e de maneira sagrada. E assim, até os dias de hoje, templos, igrejas, bosques sagrados e santuários têm uma quietude e uma qualidade uterinas que sugerem proteção e segurança em relação ao mundo dos homens, á guerra e ás interrupções. Quando ingressamos nesses lugares de silêncio e calma, muitas vezes como que iluminados pela luz da lua cheia, sentimo-nos nascidos numa vida mais sagrada e mais próximos da fonte de toda a vida.

No aspecto materno do plenilúnio, a Deusa da Caça também se torna a Rainha da Colheita, a Grande Mãe do Milho que derrama a sua Abundância por toda a terra. Os romanos chamavam-na Ceres, de cujo nome derivou a palavra ‘cereal’. É a mesma que a grega Deméter, um nome composto de D, a letra feminina delta, e méter, ou ‘mãe’. Na Ásia, ela era chamada ‘A porta do Misterioso Feminino...a raiz donde brotaram o céu e a Terra.’ Na América, ela era a Donzela do Milho, que trazia o milho para alimentar o povo. Em todas as suas manifestações, ela é a fonte de safras de vegetação que se convertem em nossos alimentos. Quando ela vai embora nos meses de inverno- como Deméter procurando sua Filha Kore no inverno- a terra fica estéril. Quando ela retorna na primavera, tudo reverdece uma vez mais.

Em muitas tradições do Oriente Médio, do Mediterrâneo e da antiga Europa, a Deusa-Mãe dá a luz um filho, um jovem caçador que, a seu tempo, converte-se em seu amante e cônjuge. Embora isso possa soar contraditório e incestuoso a ouvidos modernos, devemos ter em mente que, como ‘tipos míticos’, todas as mulheres são mães para todos os homens e todos os homens são filhos adultos.

De acordo com muitas lendas antigas, o ‘jovem Deus deve morrer’. Neste ponto, verificamos que o antigo mito e os costumes sociais se alinham. Como as mulheres eram vitais para a sobrevivência da tribo, pois só elas podiam partir e alimentar os recém-nascidos, a perigosa tarefa de espreitar, perseguir e matar animais selvagens passou a ser responsabilidade dos homens. Por volta de 7000 antes da era cristã, o filho da Mãe Divina estava razoavelmente bem-estabelecido nas lendas europeias como um Deus Caçador, muitas vezes representado, usando chifres. Havia razões estratégicas e sacramentais para isso. Como ritual, o capacete ornado com chifres homenageava o espirito do animal que ele esperava matar. Nos ritos religiosos que implicavam êxtase, uma pessoa converte-se no Deus ou Deusa que está sendo cultuado vestindo-se, falando e agindo como a deidade. Assim, ao usar os chifres e as galhadas, o caçador tornou-se o caçado em corpo, mente e espírito. Ele assemelhava-se á presa; pensava como a presa; consubstanciava o espirito de sua presa. Pensava-se que a identificação com o animal caçado assegurava uma caçada bem-sucedida.

Estrategicamente, o caçador envergava os próprios chifres e a pele do animal por segurança e para garantir o êxito da jornada. Ocultando suas formas e cheiros humanos, ele podia acercar-se do rebanho ou da manada sem espantar os animais. Os índios americanos vestiam capas de peles de búfalo, completando-as com as cabeças e os chifres, á fim de se aproximarem de um búfalo desde os mais recuados tempos até quase o final do século XIX. Tocaiar e matar um grande animal armado de chifres era perigoso. Muitos caçadores foram escornados ou atropelados até a morte. Em redor das fogueiras tribais, o caçador vitorioso era homenageado e recebia os chifres ou galhadas do animal chacinado para usar como troféu de vitória e expressão de gratidão por parte da tribo, já que ele pusera a sua vida em perigo. Com o tempo, o caçador filho da Grande Deusa Passou a ser preiteado como um Deus Cornífero, e sua disposição para sacrificar a vida pelo bem da comunidade foi celebrada em canções e no ritual.

O caçador encontrou frequentemente a morte nos meses de inverno, a época da caça em que o gelo é espesso e a carne é facilmente visto na natureza, quando o sol fica débil e pálido tudo parece morto ou adormecido, e as longas noites invernais encorajavam os nossos ancestrais da Idade da Pedra a recolher-se á escuridão trépida de suas cavernas. Era a época do gelo e da morte. Joseph Campbel diz-nos em The Way of the Animal Powers que ‘o desaparecimento e reaparecimento anual das aves e dos animais selvagens também deve ter contribuído para esse sentimento de um mistério geral urdido pelo tempo’, um mistério que faz toda as coisas terem seu tempo para morrer e renascer. Uma religião baseada nos ciclos da natureza faria disso uma verdade sagrada. Aqueles que seguiram essa religião puderam celebrar até a estação da morte, por saberem que a ela se seguiria uma estação de renascimento. Se o filho deve morrer, ele renascerá, tal como o sol voltaria na primavera. A terra e a mulher cuidam disso. Esses eram os mistérios da Grande Deusa-Mãe, o Grande ventre da Terra.

Na Grã-Bretanha e na Europa do Noroeste, no Ohio e no Mississipi e em muitas outras partes do globo, as lavouras neolíticas construíram grandes cômoros de terra. Segundo Sjoo e Mor, ‘o formato de colmeia de tantos cômoros de terra e neolíticos era intencional e simbólico. A apicultura era uma metáfora para a agricultura sedentária e para a pacifica abundância da terra nesses tempos. E a abelha era como a lua-cheia, produzindo iluminação á noite.’ No formato dos seis pletóricos da Deusa do Leite, no formato da colmeia governada pela grande abelha Rainha, os cômoros da terra eram frutos do esforço humano para inchar a superfície do solo de modo a assemelhar-se as colinas e montanhas que eram cultuadas como os seios e o ventre sagrados da Deusa. A metáfora da colmeia recorda as histórias de ‘terras onde correm o leite e o mel’ –o leite das mães, o mel dourado da Rainha... Da África e da Trácia chegam lendas de mulheres guerreiras que se alimentam de mel e leite de égua. Seja qual for a forma como o encontramos, todo nutrimento promana da Deusa da Terra e da Lua, e todas as mães são fortes por causa do poder que seus corpos encerram.

Quando traço um circulo mágico sob a lua-cheia, eu puxo seu poder para baixo e para dentro do cálice de cristalina água da fonte que seguro em minhas mãos. Quando pouso meu olhar no cálice, vejo meu próprio rosto no reflexo prateado da lua. Então, no momento certo, mergulho minha adaga ritual no cálice, fendendo a água, despedaçando a imagem da lua em muitos fragmentos menores, como estilhas de cristal. Lentamente deliciosamente, bebo o poder e a energia da lua. Sinto-a deslizar pela minha garganta, até retinir e formigar por meu corpo todo. A Deusa está então dentro de mim. Eu engoli a lua.

Quando as bruxas colocam seus pés e mãos num tanque, lago ou qualquer poça de água sob a lua cheia, elas sorvem o poder refletido da lua através dos dedos das mãos e dos pés. Atraímos sua energia para os nossos corpos quando nadamos ao luar. Os antigos rituais exigiam o cozimento de poções sob uma lua cheia, para que a própria lua da Deusa pudesse ser mexida na infusão. Mesmo dentro de casa, nos frios invernos da nova Inglaterra, reunindo-se em meu living em torno da lareira, o meu grupo de bruxas traz o formato de lua cheia para a nossa presença ao dispor-se num circulo. Ou uma única vela refletida no cálice ajuda-nos a imaginar a lua, projetando um fulgor mágico em que as coisas invisíveis ou ocultas podem ser vistas.

A Anciã. Em algum ponto da vida de toda mulher o ciclo menstrual cessa. Ela deixa de sangrar com a lua. Passa a receber seu sangue para sempre, ou assim deve ter parecido aos nossos ancestrais. Conserva seu poder e, portanto, é agora poderosa. É a sábia anciã. Como a Lua em quatro minguante, seu corpo encolhe, sua energia declina e, finalmente, ela desaparece na noite escura da morte, o corpo é devolvido á terra e, um dado momento, ela renascerá viçosa e virginal como a lua nova em sua primeira noite visível, suspensa no céu ocidental no pôr-do-sol.

A Deusa Grega Hécate, Deusa da Noite, da morte e das Encruzilhadas, encarnou essa Anciã. Seu governo durante a ausência da lua tornou a noite excepcionalmente tenebrosa. Os assustados renderam-lhe preito durante essas três noites, buscando seu favor e proteção. Onde quer  que três estradas se cruzassem, Hécate podia ser encontrada, pois ai a vida e a morte passavam uma pele outra, segundo se acreditava. Ainda hoje as bruxas deixarão bolos nas encruzilhadas ou nos bosques á sombra da lua para homenageá-la.

Dizia-se que, a morte, Hécate reunia-se ás almas dos defuntos e as conduzia ao mundo subterrâneo.* No Egito a Deusa das parteiras, visto que o poder que leva as almas para a morte é o mesmo poder que as puxa para a vida. E assim Hécate passou a ser conhecida como a Rainha das bruxas da Idade Média, pois as anciãs versadas nos costumes e procedimentos de Hécate eram as parteiras. Graças aos muitos anos de experiência, elas adquiriram os conhecimentos práticos que as habilitavam não só a ajudar nos partos, mas também na obtenção dos insights espirituais que pudessem explicar o mistério do nascimento.

E assim, do nascimento á puberdade, á maternidade, á velhice e a morte, o eterno retorno da vida é intimamente inseparável de toda mulher, não importa em que fase de sua vida ela se encontre no momento. O eterno retorno da vida é visto e sentido em todas as estações da Terra. E não existe fase ou ponto na roda que seja esquecido ou menosprezado nas celebrações anuais de uma Bruxa.

Assim novos ancestrais se maravilharam, se indagaram e renderam culto. Assim compreenderam seu lugar nos grandes mistérios da criação  e descobriram um significado para suas vidas. E assim as Bruxas continuam hoje os antigos costumes e a fazer da vida algo sacrossanto.

Extraído do livro ‘O Poder da Bruxa’ da escritora Laurie Cabot que é uma autêntica Bruxa da cidade de Salem, Massachussets USA.

 Os símbolos que compõem o arcano da lua

A lua paira sobre um campo ermo, árido e desértico, e no seu ato de iluminá-lo forma trevas, blumas e névoas, que representam as próprias ilusões que criamos á respeito de nós mesmos, á respeito da sociedade que vive em torno de nós e a respeito de quase tudo o que nos rodeia. Porque é natural do ser humano perante suas trevas interiores ou situações complicadas exteriores criar ilusões que o auxiliem a lidar de maneira menos traumática com os seus obstáculos e obstruções do dia-a-dia.

Esta mesma lua que ilumina os campos desérticos representa também, dentro da mitologia grega, a deusa Hécate soberana dos ritos mágicos e da magia, senhora das trevas, mortes, renascimentos e do destino. O encontro com Hécate é o encontro com o próprio inconsciente. Um profundo mergulho nas águas do inconsciente coletivo onde estão os grandes mitos e símbolos religiosos, a imaginação e a busca do ser humano pela individualidade que constitui uma pequena parte dentro deste mundo caótico e subjetivo, onde tudo parece ser uma coisa só, mas sem no entanto representar esta coisa única, a Divindade, uma vez que este é um mundo ilusório onde nada é o que parece ser.

Ego, individualidade e sentido de direção não mais existem no mundo da lua, estando diluídos, fazendo com que nos sintamos submersos nas águas do inconsciente á espera da manifestação de novos potenciais ainda em gestação, representando estes potenciais o futuro em que basearemos as nossas vidas. As águas turvas do inconsciente coletivo possuem uma realidade dúbia que contém em si ao mesmo tempo o nosso lado mais positivo, e também o mais negativo e, justamente por ambos fazerem parte de um único contexto dentro deste arcano, podemos ter ao mesmo tempo loucura e alucinação por falta de maior discernimento no uso de nossos potenciais.

Apesar da lua representar também maternidade e gestação de uma nova vida, antes do nascimento é necessário o cessar de medos, ansiedades e depressões oriundas daquilo que temos guardado e mal- resolvido dentro de nós a nível inconsciente. Nós deparamos neste arcano com nossas trevas interiores mais amedrontadoras e ficamos cara-a-cara com nossos medos e incertezas, para que possamos resolvê-los, pois a passagem corajosa determinada e consciente pelas trevas a fim de que realmente possamos saber quem somos, terá como recompensa a Luz Maior do Sol que será o próximo arcano a ser estudado. A negação do confronto com o nosso lado sombrio de maneira adulta e consciente somente acrescentará em nosso futuro mais problemas, uma vez que não podemos fugir eternamente de nós mesmos quando chega o momento da resolução.

As duas imponentes torres, tendo a lua a brilhar por entre elas e um caminho protegido por feras, representam a falsa segurança, que não pressente os perigos desconhecidos mais temíveis que aqueles que conhecemos. Estas torres formam uma espécie de portal que necessita ser transposto, embora isso não possa ser feito sem um certo risco de sermos devorados pelo lobo e pelo cão que velam a passagem por este portal como verdadeiras sentinelas. Esta imagem é uma alusão aos ‘ritos de passagem’ presentes em todas as tradições, culturas e povos espalhados pelo planeta Terra. Os ritos de passagem, principalmente aqueles que passamos para que possamos ser aceitos dentro de nossa sociedade, representam fases de inquietude onde paira sobre nós uma grande ansiedade, pois não sabemos se vamos ser aceitos ou não e nem se conseguiremos abandonar as antigas formas em que havíamos baseado a nossa vida e já estabelecido através das mesmas, uma certa zona-de-conforto. Um bom exemplo para o que estamos falando são os ritos de maioridade judaica, onde o jovem com treze anos é já considerado como um ser responsável por ele mesmo; as festas de debutantes das moças de quinze anos, onde as donzelas são apresentadas para a sociedade; os ritos de passagem de jovens das diversas tribos indígenas espalhadas pelo mundo; a saída do adolescente do ginásio e o seu ingresso no colegial e posteriormente na faculdade onde através dos "trotes' ele é aceito pelos veteranos dentro de uma nova sociedade e fase em sua vida e, por fim a primeira experiência sexual de um(a) jovem que realmente constitui um sério marco na vida da pessoa.

Todos os exemplos citados acima, constituem ritos de passagem por entre duas torres de ilusória segurança, pois nestes momentos de nossas vidas a única coisa que temos é uma vontade de crescer e sobressair perante um determinado contexto, embora não tenhamos muita a certeza de como fazer isso. É a entrega ao próprio destino com muita fé pessoal para que, após transposto o obstáculos, realmente percebamos que na realidade ele nem era tão grande assim e teve o seu tamanho e importância consideravelmente aumentado, por aquilo que ilusoriamente acreditávamos que ‘iria acontecer’ sem no entanto termos certeza de coisa alguma.

Ritos de passagem não se referem apenas á fase de adolescência, mas também manifestam-se muitas vezes do decorrer de uma existência, quando realmente nos sentimos perdidos e sem nenhum ponto de apoio, completamente amedrontados por nossas feras interiores. Nestes momentos de decisão em que normalmente encontramo-nos sobre pressão, surgem lampejos, insights e intuições oriundas do nosso inconsciente a guiar-nos por um bom caminho, para que cheguemos em segurança a uma nova fase em nossas vidas. Estes lampejos, insights e intuições são de natureza inconsciente, portanto lunar. Meditai...

Podemos notar que entre as duas colunas existem três animais a saber: o cão, o lobo e o escorpião. Em alguns Tarôs ao invés de um lobo e um cão estão entre as torres dois chacais e no pequeno lago de águas turvas ao invés do escorpião o que encontramos é um caranguejo. Passemos agora á análise destes animais, em primeiro lugar dentro de uma visão mais popular muito comum aqueles que associam o arcano dezoito aos chamados ‘inimigos ocultos’.

O cão é visto como representante daquele tipo de pessoa falsa e traiçoeira que pela frente nos cobre de elogios, mas por trás tece comentários no mínimo desagradáveis á nosso respeito. É o típico falso amigo, existente em todos os tipos de sociedade da raça humana.

O lobo representa aquela pessoa bruta, e muitas vezes de espirito ignorante, que já não vai com a nossa cara logo de inicio e nos diz francamente que não gosta de nós. Neste aspecto o lobo é bem mais digno que o cão, que esconde suas traições sob vis adulações.

O caranguejo é o tipo de pessoa que quando nos encontramos lá embaixo por causa de problemas e aflições relativas á vida cotidiana, vai lá e pisa mais ainda sobre os nossos corpos já em muito dilacerados pelas atribulações do dia-a-dia.

Passando agora á uma análise já não tão popular dos animais, teríamos o seguinte quadro:

Os dois chacais estariam associados á Anúbis, deus egípcio da Justiça, a observar atentamente a passagem por entre as torres, para poderem checar os méritos de uma pessoa antes que ela mergulhe na experiência de encarar as suas trevas interiores das quais as externas são apenas um reflexo. Também estes chacais que representam juízes, simbolizariam o julgamento a que somos expostos após nos confrontarmos com o nosso lado mais sombrio e escuro e trabalharmos com ele á fim de que possamos nos depurar. Após a depuração o que ocorre é um julgamento onde somos analisados com o objetivo de saber até onde evoluímos e o quanto ainda nos falta evoluir.

O escorpião representa a necessidade de, tal como os nativos deste signo, buscarmos as profundas verdades por detrás deste mundo superficial e ilusório em que vivemos mergulhados praticamente vinte e quatro horas por dia. É o mergulho nas águas turvas, confusas e complexas de um sistema, de uma sociedade e inerentes ao próprio ser humano, para que possamos realmente descobrir o que existe por detrás da vida em todos os seus contextos. Porque: ‘Quem sou eu?’, ‘o que significam as coisas que ocorrem ao meu redor? ‘; Serão meras coincidências, ou já existirá um plano predeterminado traçado por nós antes mesmo do encarnar, e que agora precisa ser cumprido?’

Estas perguntas só são respondidas quando aceitamos dar o mergulho. O salto em direção ás trevas turvas de nosso oceano inconsciente, para recuperarmos nossa identidade como Essências Divinas em evolução há muito perdidas por causa da nossa necessidade há muito perdidas por causa da nossa necessidade de constante auto- ilusão, para que não vejamos profundamente o que se esconde em nosso coração.

As águas turvas representam nossas incertezas, inseguranças e emoções mal resolvidas, mas também elas tem associação com uma espécie de útero de onde renascerá um novo ser, para uma nova vida mais plena e abundante. Quando finalmente o sol raiar no céu anunciando o fim da noite em nossas vidas e começo de novos dias, após a confrontação com as trevas da dúvida que ativaram em nós a necessidade de buscar a nível interno e não mais externo um ponto de apoio verdadeiro baseado no que francamente acreditamos, por que sabemos que é real. E tudo aquilo que realmente sabemos a nível de certezas internas é porque verdadeiramente sentimos com o nosso coração. E o que sentimos com o nosso coração, transcende a necessidade de explicação racional, porque aí se encontra o momento do milagre em nossas vidas, aí está o mistério. A luz boa que nos faz voltar a crer que a vida pode ser diferente e melhor, porque confrontamos nossos demônios internos e agora acalentar- nos vêm os anjos do Senhor, nossa Consciência ou seja lá que Nome queiramos dar a esta ‘Força Superior’. Agora sim, acalentados merecemos ser e amparados pela Divina Misericórdia da Providência, porque quando chegaram as trevas da Lua e a noite se fez presente em nossas vidas, raiamos nosso Sol Interno e atravessamos o ‘vale da morte’ (o portal formado pelas duas torres), sabendo que o Senhor (Força superior que nos guia quando nos desfazemos de nossas ilusões), verdadeiramente era o nosso pastor e nada nos faltaria...

 Significado do 18° Arcano- A Lua

Com este arcano de natureza lunar, o que temos em nossas vidas é um período de incertezas e flutuações rumo ao não palpável em várias áreas de nossas existência. Não existe mais o ego porque ele foi diluído, e agora nos sentimos perdidos, drenados e meio que sem vontade própria para tomar decisões perante as questões do nosso dia-a-dia, desde as mais triviais até as mais complexas. Nos sentimos exauridos, cansados e desanimados, sem ter a certeza do que realmente queremos, ou vivemos uma vida de falso querer orientado pelo nosso lado mais egóico e irracional, não vendo que com isso vamos cada vez mais nos afogando nas escuras águas de nossas próprias ilusões.

Não é rara, com a presença deste arcano num jogo, a sensação de perseguição do cliente em relação á sociedade e pessoas que o cercam, achando ele que todos estão a conspirar contra o seu sucesso e contra a vida plenamente tranquila e feliz que tanto almeja. O cliente sente-se bloqueado e confuso, e neste momento de noite em sua existência, por não entender que fases assim de menos progresso externo para que se faça uma auto- análise interna são necessárias, ele começa a criar em torno de si idéias fantasiosas onde ‘alguém fez um trabalho para ele’, ‘sua vida não deslancha por que lhe botaram olho-gordo’ e tantas outras baboseiras que nem vale a pena citar. A crença de que alguém possuiria um poder para nos fazer mal é fruto da ignorância do ser humano á respeito de seus ilimitados potenciais a nível interior, através dos quais bem compreendidos e harmonizados, não há ‘trabalho’ que o possa atingir. O melhor remédio para olho-gordo é um ‘colírio dietético’ e parar de acreditar que sobre a terra caminha alguém que possa fazer mal ou bloquear a sua vida, pois este ‘demoníaco ser’ não existe nem sobre a terra e muito menos ‘além dela’...

Eu gostaria de saber, quando as pessoas vão começar a acreditar e aceitar o fato de que: 'Nós somos os únicos responsáveis por tudo aquilo que nos acontece sendo a nossa vontade a única força diretriz causal que move e orienta as nossas vidas'. Quando os seres humanos vão começar a acreditar e trabalhar com este fato, e parar de atribuir os seus insucessos a alguma ‘força estranha, praga ou demônio,’ que não os nossos próprios demônios internos criados, mimados e alimentados por nós mesmos, quando ao invés de buscar uma real evolução e sentido real das coisas nos perdemos em ridículos joguinhos visando a satisfação do ego, por desconhecermos completamente que o que verdadeiramente vale, apita e conduz o jogo da vida é a vontade da nossa Essência Interna, parte de Deus viva e pulsante dentro de nós? Quando?

Muitos leitores diriam que a nossa existência não é controlada unicamente por nossa vontade, mas também pela vontade de Deus. E neste momento eu pergunto a estes leitores o que somos nós, se não o próprio Deus?

É verdade que somos deuses imperfeitos ainda com muito a evoluir, mas dentro de cada um de nós, existe uma Centelha Divina que nada mais é do que o próprio Deus presente em nós, tornando-nos deuses cocriadores da sua obra. Mesmo que a vontade de Deus interfira em nossas vidas, temos sempre que lembrar que se é a vontade Deus que está influindo em minha existência, então eu posso ficar tranquilo porque eu também sou deus, como o leitor também o é e, como todos os nossos irmãos no planeta Terra também o são. A aceitação deste simples fato já nos liberta de um monte de falsas ideias depressivas, pessimistas e negativas que nos colocam sempre como pobre-coitados á merece de algo maior, que analisado friamente nada mais é do que um estágio bilhões de vezes mais evoluído que nós mesmos. Mas continuamos nós mesmo sendo ‘este algo maior’. Este fato é incontestável!

Com a retirada do arcano da Lua em uma consulta é como se nos encontrássemos num período de gestação onde a única certeza que temos é que não temos certeza de coisa alguma. Nesta fase são improváveis muitos resultados positivos em todas as áreas de nossas vidas, porque o momento não é de resultados e sim de parada geral em nossas atividades para que possamos analisar até melhor esclarecer o que fizemos, porque realmente amamos e, o que fazemos contra a nossa vontade, iludindo-nos de que aquela tarefa realmente é boa para nós quando não o é.

Seria um momento de frieza cotidiana, onde não devemos contar com o apoio de pessoas para resolver os nossos problemas, e devemos buscar  mais a solidão e introspecção em nossas casas, nas relações de amizade mais íntima ou, se tivermos a oportunidade de viajar para um lugar bem afastado e de preferência onde ninguém nos conheça, para que possamos repensar alguns pontos de nossa vida enquanto esperamos este inverno passar, para no devido tempo nascermos novamente e caminharmos em direção á uma nova luz.

O arcano da lua não é um arcano negativo pois como já foi dito não existem arcanos negativos, e quando algo de negativo ocorre na vida da pessoa quase sempre é porque ela está deixando de fazer alguma coisa que deveria, ou porque está em desarmonia com as Leis naturais e universais que regem o ser humano, a vida e o todo.

Diante da Lua nos vemos envoltos pela noite e da mesma maneira que ao cair do sol as pessoas se recolhem em seus lares, ou tratam de assuntos de uma natureza mais emocional, nós também devemos buscar o recolhimento na fase de vida regida por este arcano lunar e também devemos realizar uma profunda e útil auto- análise para que vejamos atualmente qual é o nosso quadro emocional, uma vez que se este lado do nosso ser não caminha bem, dificilmente qualquer outro aspecto de nossa vida caminhará.

Mergulhados em meio a incertezas e indecisões e não sabendo em quem confiar, só nos resta apreender com este período que precede o nascimento e usar como bússola guia em nossas vidas o silêncio, a prudência, e a intuição recolhendo-nos á Paz dentro do nosso Coração. Para que no devido tempo, depois de passado e inverno lunar em nossas existências, possamos desfrutar de uma nova, radiante e mais abundante vida que com certeza chegará com a primavera já anunciando um renascimento com muita Luz, antevendo um luminoso verão para aquele que se deixou iluminar pelo Sol Interno da Verdadeira Razão.
O Caminho na árvore da vida (cabala).
 REFERÊNCIA DE ESTUDO:

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Segredos do Eterno. Alexandre José Garzeri
O TarotCabalístico - um manual de filosofia Mística. Robert Wang
IMAGENS E DECKS (fotos) THOTH CROWLEY
MARSELHA
RADIANT RIDER WAITE
BARBARA WALKER

TAROT NAMUR
TAROT ANTICHI BOLOGNESI

TAROT ANCIENT ITALIAN


2 comentários:

  1. Isso não é um texto sobre a Lua, é um tratado! E que tratado. Meu amigo, continue. O seu trabalho tem sido cada vez mais poderoso. Grande abraço!

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  2. Poxa Leo! agradeço de coração por acompanhar o trabalho e estar gostando. Você sabe que sua opinião é de fundamental importância e incentivo.
    Obrigado mesmo! um grande abraço mano.

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Ela será lida e publicada assim que possível.

Fraternalmente.

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